Descrição
Partindo da aposta fundadora de que na criança autista é possível encontrar um sujeito, como em toda psicanálise, Luis Achilles Furtado traz a público o resultado de anos de pesquisas. O livro retrata o encontro do autista com o psicanalista, derrubando preconceitos segundo os quais a psicanálise não seria adequada a essa clínica. Uma pesquisa que se fundamenta na orientação segundo a qual o que está em jogo é “a lógica da linguagem [que] toca o corpo do sujeito promovendo uma marca, uma inscrição psíquica de gozo”, de modo que o peso das palavras para essas crianças é muito sério, como já observava Lacan. Partindo disso, o livro retoma as palavras, nas diferentes versões do famoso caso Dick, atendido dos 4 aos 17 anos, e um texto inédito em português de sua psicanalista, Melanie Klein. Mas não só, pois inclui a apresentação de um excepcional projeto que se realiza no interior do Ceará, intitulado “Água de Chocalho” – um sintagma bem nordestino –, e cujas consequências certamente ainda darão novos frutos no futuro. Esse projeto se insere na Universidade Federal do Ceará – Campus Sobral e é financiado com Bolsa de Pesquisa da FUNCAP. Com os estudantes universitários, supervisionados por seus professores-psicanalistas, ele “visa promover atividades lúdicas e/ou artísticas que permitam tomar como fonte e fio condutor, as próprias invenções da criança” e produz, a partir disso, achados clínicos ímpares, como a observação de que, através da música tocada por duas crianças, aquela que tem um diagnóstico de autista pode interagir com a outra. Descobrir a forma como o texto o explica, deixo aos leitores do livro, a que os convido, de modo a poderem se tornar também testemunhas do desafio clínico constante na psicanálise com autistas, que se dá na forma de “articular, na função da fala, algo que promova o salto no qual a dimensão simbólica da palavra se articule com sua dimensão real e ressonante”.
Sonia Alberti, 26 de abril de 2021.
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