Publicado em: 03/12/20

Profa. Dra. Marli Vizim

Quando marcamos uma data precisamos destacá-la ressaltando sua importância, sua trajetória histórica, suas conquistas e seus impactos no cotidiano das vidas das pessoas, sejam elas com deficiência ou não. Esta situação fica ainda mais evidenciada, porque os discursos determinados avançam de forma contrária às práticas produzidas. Precisamos das datas porque somos uma sociedade em constante evolução e mudanças. As datas sinalizam exatamente essa temporalidade cuja dinâmica da vida naturaliza o que não deve ser naturalizado; as formas de convivência humana, de interações interpessoais, de oportunidades no exercício da cidadania plena, uma realidade para poucas pessoas.

A desigualdade social está presente na nossa sociedade e também em outros países, seja dos hemisférios sul ou norte, com certeza bem maior nos países mais pobres. Então, por que o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência? Porque ainda precisamos alertar as pessoas de forma geral, precisamos de uma data específica para este chamamento à população sobre as formas injustas de inclusão nos diferentes espaços sociais.

É preciso marcar em nossas memórias esta data; contudo, é preciso sensibilizar as pessoas para continuar lutando por justiça social para todos. Precisamos de ações efetivas, de mobilização das pessoas com e sem deficiência, na construção de Políticas Públicas de Inclusão Social, na luta contra toda forma de injustiça social.  Nenhum país pode comemorar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência enquanto o propósito instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992, cujo objetivo foi alertar o mundo sobre os direitos e deveres das pessoas com deficiência, juntamente com a garantia de qualidade de vida, efetivamente, não for uma realidade para todos com e sem deficiência.

É importante lembrar que tal fato ocorreu como forma de salientar para o mundo as formas de segregação e exclusão social que as pessoas com deficiência, sejam elas física, sensorial ou intelectual, vivenciaram e ainda vivenciam, destacando a importância de valorização do potencial delas.

Ainda que tenhamos um longo caminho percorrido, as pessoas com deficiência vivem nos dias atuais uma representação, cuja moldura as coloca na condição de cidadãos de segunda categoria. Isto tem demonstrado que, mesmo com a exposição midiática, os avanços médicos, as novas tecnologias, entre outros fatores, as pessoas com deficiência são estigmatizadas como seres incapazes, imperfeitos e improdutivos, porque sua imagem não indica valores legitimados socialmente.

A transformação do quadro de injustiça social que atinge essas pessoas exige, além de força política, propostas educacionais, formação continuada, acessibilidade pedagógica, acessibilidade de comunicação e atitudinal que considere as esferas racional e afetiva, que necessariamente envolvem todas as pessoas.

O grande desafio que temos neste Dia Internacional da Pessoa com Deficiência diante do cenário atual tão complexo explicitado pela pandemia é repensar como romper com as formas padronizadas, as estruturas fixadas com rigidez nos processos de interação e inclusão social e de acessibilidade. Além das implicações da visibilidade da deficiência, contribuem também com o processo de integração e inclusão das pessoas com deficiência, a articulação de todos os setores sociais.

Outro desafio no cotidiano é a ruptura da representação da deficiência como ameaça social, expressando o desvio que precisa ser corrigido, consertado, curado. Disto resultam práticas sociais de ajustamento, reabilitação, cura, segregação dos indivíduos como forma de prevenção social e também de absolvição da sociedade de qualquer suspeita de ser ela imperfeita. O fato provoca no cotidiano uma inclusão excludente ou precária.

Então, vamos nos mobilizar, denunciar, lutar por uma sociedade mais justa e inclusiva, nas quais as datas sejam de fato momentos de relatar uma história de conquistas e justiça social.

Marli Vizim é Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. Membro do GT-Educação Especial da ANPED. Coordenadora do Projeto de Inclusão na rede pública de ensino de Diadema. Docente do Centro Universitário Fundação Santo André. Autora de “A Representação da Deficiência no Cotidiano Escolar”.

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