Publicado em: 09/12/20

Luís Fernando Laranjeira

O Brasil vive um dos piores momentos de sua história. Assolado por uma crise econômica sem precedentes, com sua economia em frangalhos, desemprego nas alturas, e apanhando de uma pandemia mortal.

Governado(?) por um presidente eleito à base de mentiras e fraudes de todos os tipos, o país patina e se vê próximo à barbárie. Ou a não utilização de mais de 6 milhões de testes para detecção de covid-19 que estão perdendo a validade; a falta de seringas para vacinação contra a covid-19; desmanche do SUS e de programas de saúde mental; desmatamento e queimadas batendo recordes; invasão criminosa de terras indígenas e quilombolas; estímulo a garimpos ilegais; culto ao ódio e acirramento dos preconceitos e ataques contra negros, índios, mulheres, LGBTQIA+; descaso e abandono dos pobres e miseráveis; ataques aos setores culturais, da educação, da ciência; continuação da destruição das leis trabalhistas e precarização do trabalho; desmonte do Estado; mentiras; desinformação; fake news; não são significam um caminho rápido à barbárie?

Sem contar as piadinhas e o descaso com relação à pandemia, tratada como gripezinha pelos negacionistas capitaneados pelo presidente da República, que nos chamou de maricas por temermos a contaminação por um vírus letal e, quando não, que pode deixar sequelas ainda desconhecidas. Detalhe: até a última informação divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que tive, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking global de casos de coronavírus (aproximadamente 6,6 milhões de pessoas já foram contaminadas) e contabiliza quase 180 mil mortos pela doença. Enquanto isso, em 7 de dezembro, Jair Bolsonaro participou de uma solenidade no Palácio do Planalto para expor o traje que ele e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, usaram na posse presidencial em 2019.

Além disso tudo, como se não fosse pequena nossa tragédia, o governo federal tem monitorado jornalistas, professores, economistas, cientistas, influenciadores digitais para classificá-los nas categorias de detratores, neutros informativos e favoráveis ao governo. Devemos nos lembrar de que já foi elaborada uma lista de antifascistas também. O surgimento de uma nova lista, por si só é muito grave. Qual a necessidade de se elaborar uma lista sobre críticos, ‘neutros’ e apoiadores de um governo? Tentativa de intimidação? Ataque à liberdade de pensamento e expressão? Esse tipo de lista lembra os piores momentos da ditadura, da deduragem. A mim, soa como preparação e uma tosca justificativa para perseguições e ataques a quem não compactua com o governo. Quem, e, principalmente, um governo que não aceita críticas, está mais para ditador. Isso é muito perigoso. Abre graves precedentes e a possibilidade de novos ataques, de eventuais tentativas de adoção de medidas antidemocráticas e até violentas. É mais uma ameaça à liberdade de expressão. Pode colocar em risco as pessoas tornando-as alvos de grupos violentos que apoiam o governo, que querem o retorno à ditadura e aos famigerados atos institucionais como o tristemente célebre AI-5. É mais um atentado ao livre pensamento, à crítica, ao convívio com o contraditório e com as diferenças. É um atentado à civilidade, enfim.

Quanto aos favoráveis a esse governo, cabe apenas repúdio e desprezo por apoiarem isso que aí está. Neutros informativos merecem o mesmo tratamento, uma vez que neutralidade não existe (aprendi isso nas primeiras aulas de meu curso de jornalismo e tive a oportunidade de constatar a veracidade do postulado nos meus mais de 30 anos de atividades em redações).

Mas, e os detratores? Detratar significa, segundo os dicionários, caluniar, difamar, depreciar, desvalorizar os méritos, maldizer. Caluniar é imputar falso crime; difamar é falar mal; depreciar é rebaixar valor, qualidade, virtude. Aí vem a pergunta inevitável: o que este governo tem de valor, qualidade, virtude, méritos? Para mim, a resposta é uma só. Nada! É um governo que cultua a destruição, o ódio, a morte.

Lamento que a velha imprensa corporativa não esteja dando a atenção que deveria a essa situação que poderá se voltar contra ela própria no caso de uma tentativa de endurecimento por parte do governo. A meu ver, a velha imprensa corporativa poderia e deveria se posicionar de forma contundente contra mais um ataque à democracia e à liberdade de pensamento e expressão.

Luís Fernando Laranjeira é jornalista, fotógrafo, editor. Mestre em Comunicação e Estudos de Linguagens.

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